MISS BRASIL GAY 2011
O Miss Brasil Gay é o maior e mais importante concurso de beleza brasileiro, que há 35 anos elege o mais belo transformista do Brasil. O concurso nasceu de uma brincadeira entre amigos e, ao longo dos anos, foi se transformando no mais importante evento da cidade de Juiz de Fora. Em 20 de agosto de 2011, acontecerá a 35º edição do concurso Miss Brasil Gay. Pesquisas apontam o evento como o mais importante da cidade e um dos mais representativos do gênero em todo o mundo.
Em seu livro “Devassos no paraíso – a homossexualidade no Brasil”, o escritor João Silvério Trevisan destaca o Miss Brasil Gay como uma das primeiras manifestações organizadas da comunidade homossexual brasileira (1.976) e, por isso, deve ser percebido como importante instrumento da luta pelos direitos dos homossexuais no país, além de situar Juiz de Fora como uma cidade que promove a inclusão social, através dos eventos que ocorrem durante a Semana Rainbow. O reconhecimento do seu valor histórico e político está no fato de o evento ter sido incluído como 4º Registro Imaterial do município, de acordo com o Registro de Bens Imateriais de Juiz de Fora - Decreto nº 9275, 14/08/07. O fato comprova a vocação da cidade para o turismo de eventos, bem como destino gayfriendly.
Segundo Ian Johnson, diretor executivo da Out Now, empresa de consultoria americana, pesquisas apontaram o Brasil como o destino receptivo número um na América Latina para turistas gays vindos de países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Holanda. A Out Now também destaca o país como o maior mercado emissor da região, no que se refere ao turismo gay.
O levantamento indica ainda que a América Latina representa uma grande oportunidade para o turismo gay, ainda não muito bem explorada, com grandes possibilidades de rentabilidade – havendo espaço para o turismo gay de alto luxo, extremamente rentável. Em matéria publicada no site oficial da Associação Brasileiras de Agência de Viagens (ABAV), a Associação Brasileira de Turismo GLS (Abrat-GLS) está otimista com as perspectivas de crescimento do turismo gay em 2011 no Brasil, com um aumento próximo a 20% no número de viagens do setor, de acordo com Almir Nascimento, presidente da entidade.
Com relação ao turismo em Juiz de Fora, é importante ressaltar a importância do turismo gay para a cidade, que vem crescendo consideravelmente. Produzir um evento, ao longo de 35 anos, voltado para o público gay, é trabalhar a segmentação em turismo. No terceiro final de semana de agosto, Juiz de Fora receberá mais de 12.000 turistas, que injetarão na economia do município uma média de 6 milhões de reais, ocupando boa parte da rede hoteleira (houve anos em que se ocupou 100% dos leitos) e aumentando a demanda por muitos produtos e serviços da cidade.
Além de gerar lucros financeiros, a SEMANA RAINBOW também dá visibilidade à cidade, possibilitando que o município e as discussões a respeito dos direitos dos homossexuais sigam na agenda dos meios de comunicação de massa.
Entretanto, o Miss Brasil Gay não é somente festa. É também evento político, que há 35 anos discute a homossexualidade no Brasil. Ao mesmo tempo em que se divertem, as candidatas e a comunidade ampliam os horizontes da discussão a respeito do tema. Ao observar os vários concursos de beleza, que elegem transformistas no Brasil e no mundo, pode-se perceber que mais que bordar e costurar trajes, as candidatas estão criando sonhos, transformando realidades. Enfim, o Miss Brasil Gay visa promover a inclusão de um grupo que sempre esteve à margem da sociedade, em meio a um belo espetáculo.
Tema do ano: AIDS e inclusão social
Com o intuito de ressaltar o papel político desempenhado pelo MISS BRASIL GAY em seus 35 anos de existência, o tema escolhido para o espetáculo em 2011 será: AIDS e inclusão social. Através do material gráfico, da decoração (nas cores vermelha e branca, sempre com alusão ao laço - símbolo do movimento), dos shows e de ações educativas que serão promovidas, pretende-se apresentar um discurso afirmativo sobre a doença. Não um discurso vitimado, pedante ou piegas, mas um discurso que se apoiará em três bases:
• A AIDS continua matando, com a expansão dos grupos de riscos. Ainda é grande o número de óbitos seja entre gays, assim como casais heterossexuais, jovens e idosos.
• Duas estatísticas relacionadas ao Brasil: somos referência mundial no tratamento da doença, ao mesmo tempo em que somos recordistas em número de assassinatos de homossexuais, cuja principal motivação é ódio/homofobia. Em 2010, de acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), foram registrados 210 casos.
• Alertar aos portadores, familiares e entes queridos que AIDS não deve ser considerada sentença de morte. E que as pessoas precisam aprender a conviver com a doença, na mesma medida em que deverão retirar qualquer tipo de pré-conceito sobre os portadores.
Entretanto, o tema AIDS deverá ser abordado sob uma perspectiva mais ampla, a da inclusão social. E inclusão é o maior objetivo do Miss Brasil Gay: ampliar o leque de oportunidades e possibilidades para a comunidade homossexual. Há muito a ser discutido sobre AIDS para a compreensão popular. Há muito para ser feito. A AIDS não se fecha nela mesma. Para trabalhar AIDS, há que se abordar questões inúmeras. Além das citadas acima, pode-se também destacar:
• DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA: inclusão social, populações vulneráveis, estigma e discriminação, legislação, tratamento e prevenção, homofobia, políticas públicas, gênero, raça, etnia, identidade de gênero, drogas, enfim, um leque imenso de oportunidades a ser trabalhado. A SEMANA RAINBOW promovida em Juiz de Fora é um ótimo exemplo de diversidade e cidadania.
• DIVERSIDADE E PARTICIPAÇÃO CIDADÃ: side events (eventos paralelos) com mesas de discussão, conversas afiadas, palestras, oficinas exibição de filmes seguido de debates, peças teatrais, programas para trabalhar questões políticas, de cidadania, de ativismo, militância, participação social, que convergirão para o MISS BRASIL GAY, o Rainbow Fest e a Parada do Orgulho Gay.
Em outras palavras, a mobilização social e a ação afirmativa da parada, os eventos culturais e artísticos precisam vir acompanhados de debates, discussões e da participação cidadã - em termos de políticas públicas LGBT e acesso à saúde, trabalho, educação, segurança etc. O envolvimento das ONGs é crucial.
Poderes públicos (em nível municipal, estadual e federal) também precisam se envolver. Juiz de Fora tem se destacado pelo nível de seriedade, mobilização e compromisso que demonstra na realização dos eventos LGBT.